Série inglês sem rodeio – Os perrengues de fazer uma imersão: O que não te contam quando te indicam esse método para aprender inglês.

Publicado por Ariça Vargas em

Confesse que você já pensou que seria melhor aprender inglês se você tivesse a chance de fazer um intercâmbio e pudesse ficar imerso no idioma por algum tempo. Acredito que todo estudante dessa língua já pensou que essa seria a forma mais “fácil” pra aprender inglês. Mas você já se perguntou o que mais você teria que enfrentar além da dificuldade de não falar o idioma daquele país?

Aprender inglês em algum país de língua inglesa nem sempre é a melhor forma e nem de longe é a mais fácil.

Eu aprendi inglês na Irlanda assim, de “dentro da cova dos leões”, como costumo dizer. Naquela época, não fazia ideia dos desafios que teria que enfrentar por não conseguir me comunicar nem mesmo para executar as tarefas mais simples do dia a dia. Hoje coleciono lembranças de situações das quais ainda sinto uma certa vergonha quando me recordo, sobram histórias boas e não tão boas e mesmo que algumas lembranças não “doam” mais, isso não quer dizer que não existam cicatrizes desse período de aprendizado, que poderiam ter sido minimizadas se estivesse mais preparada.

As situações desconfortáveis começaram tão logo eu pisei em terras irlandesas, quando na imigração eu tive a certeza que meu inglês taxado como “INTERMEDIÁRIO” por uma escola tradicional da moda na época, não era nem de perto suficiente pra que eu pudesse me virar. Após esse primeiro choque, vieram as dificuldades nas tarefas do dia a dia, como por exemplo, ir ao mercado comprar itens de higiene e não conseguir nem perguntar onde ficava a sessão de pastas de dente, tampouco compreender a fúria do atendente que não fazia questão alguma de me ajudar na minha missão. Além disso, houveram situações constrangedoras no trabalho, algumas demissões e muita conta atrasada por não conseguir prover o necessário ao final do mês, justamente porque eu não falava o idioma exigido pra isso.

Contando assim, parece que foi só coisa ruim e de fato não foi, houveram situações onde pessoas extremamente pacientes foram solícitas, das quais ainda hoje eu me recordo com ternura, pois gente que ajuda a gente é o melhor tipo que tem. Tiveram histórias engraçadas e histórias das quais sorrisos e gentilezas bastaram, mas acredite, as que marcaram de verdade foram as lembranças que me fizeram, na época, derramar muita lágrima de desespero e me questionar se eu havia tomado o caminho certo para atingir o objetivo de falar o idioma.

Quando se escolhe fazer um intercâmbio, você deve estar muito bem preparado psicologicamente para que todas as adversidades não te derrubem e te tragam de volta ao seu país de origem frustrado e cheio de marcas que levarão anos para serem superadas. É sim muito bonito ver gente “lá fora”, tirando fotos em lugares lindos, pubs incríveis e vivendo uma “vida dos sonhos”, mas não se engane: se você não tem o mínimo pra chegar lá e se virar de verdade, você vai apanhar muito e certamente se questionará diariamente se todo esse empenho vale a pena.

Se aprender por imersão pode ser um tiro no pé, qual o melhor caminho?

Devemos sempre considerar que há os que precisam de mais dedicação que outros, os que tem mais facilidade em absorver os conteúdos e ainda os que parecem ter um dom natural para aprender outras línguas, mas uma máxima que nós da Say Go defendemos e que deve ser levada em conta é que estudar qualquer idioma, a princípio, pode ser mais eficiente quando estudado na língua materna do estudante e quando ele se mantém na sua zona de conforto, que o possibilita focar e se dedicar ao que realmente importa.

 

 

Certamente quando o aluno está imerso não tem escolha: ou ele aprende, ou ele aprende. Basta saber o quanto ele está disposto a sacrificar pra aprender dessa forma.

Dependendo do tempo pretendido pelo aluno para ficar no exterior, acreditar que o melhor caminho para aprender inglês é o contato direto e ininterrupto com a língua estudada pode não só atrasar o aprendizado como também pode traumatizar o aluno por uma vida inteira. Apesar de muita gente dizer que esse caminho pode ser mais rápido, vemos que os beneficiados são, em grande maioria, os que já tem um bom conhecimento sobre a estrutura da língua e não tem grandes dificuldades em compreender o que lhe é falado. Os que apresentam dificuldades, principalmente em compreender o que o interlocutor diz, geralmente voltam do intercâmbio com o mesmo conhecimento com o qual chegaram no outro país ou com pouca evolução. Não será em 2 ou 3 meses de intercâmbio que alguém que se considera “intermediário” aprenderá inglês e muito menos voltará de lá com a tão sonhada fluência. A não ser que você seja super Jedi, obviamente!

As principais dúvidas de quem escolhe a imersão pra aprender ou lapidar o inglês são sobre o tempo de permanência, quanto isso vai custar e qual é o nível necessário pra não passar tanto “aperto”. Isso tudo vai depender de uma série de fatores que precisam ser avaliadas individualmente pois cada aluno é diferente um do outro. Os principais pontos citados abaixo podem dar uma ideia de como começar a avaliar:

  • Conhecimento: não precisa perguntar a ninguém pra saber que quanto menor for seu conhecimento sobre a língua, mais tempo você deverá ficar em terras estrangeiras para aprender a falar e/ou ser um falante fluente. Além disso, quanto mais básico seu conhecimento, mais recursos e necessidades específicas você terá. Se você não conhece a estrutura da língua, não compreende o inglês falado e não fala nada, deverá passar no mínimo 6 meses em terras estrangeiras pra começar a pegar o básico.
  • Recursos: Se você estiver pensando em não trabalhar, o valor do investimento pode chegar a R$50.000 reais pra um período de 6 meses. Esse valor cobre as principais contas como: aluguel, água, luz, transporte, alimentação e alguns extras, como: remédios e eventuais emergências. Se precisar trabalhar e seu inglês for básico, deve levar em conta que provavelmente só encontrará empregos nos quais o idioma não será um problema como: serviços de limpeza e entregas e ainda assim poderá precisar de uma reserva de dinheiro pra complementar as contas mensais.
  • Necessidades: há grandes chances de você precisar da ajuda de alguém que já fale um bom inglês e fale seu idioma pra realizar tarefas que fazem parte do seu dia a dia e que nos primeiros meses serão um desafio grande para você, como: imigração/visto, encontrar trabalho, fazer compras mais especificas (eletrônicos) e tudo o que exige boa compreensão da língua. Com o passar dos meses você se tornará mais independente, mas essa ajuda pode lhe poupar tempo e constrangimentos desnecessários.
  • Objetivos: se você pretende apenas fazer uma viagem recreativa e aproveitar o que a cultura do país tem a oferecer, não precisa se preocupar muito com a língua, pois, nesse caso existem vários recursos e tradutores que podem facilitar a comunicação. Se você pretende apenas lapidar o seu conhecimento uma vez que já se vira bem com o idioma, fazer aulas de algo em sua área pode tornar a experiência bastante produtiva. Se seu objetivo é aprender a falar a língua, é importante você compreender em qual nível o seu inglês está para daí então, traçar um plano financeiro, de tempo e se planejar para passar alguns meses em terras estrangeiras.

Vale ressaltar que se você considera seu inglês básico, deveria ficar pelo menos um ano estudando fora para ter um inglês fluente e isso indo para a escola estudar a base da língua e lapidar o conhecimento na rua, fugindo dos brasileiros e buscando experiências onde o idioma são necessários. Uma dica é não nivelar seu inglês com testes de escolas tradicionais e metodologias que não tem compromisso com avaliações internacionais sérias, pois, estas dizem absolutamente nada sobre o que você sabe ou não sobre o idioma. Eu falo sobre nivelamento internacional no artigo “O limbo do inglês intermediário” e explico como você pode se auto avaliar e saber seu conhecimento real sobre a língua inglesa.

E se ainda assim eu quiser fazer o intercâmbio?

Alinhar os objetivos com o investimento e o tempo necessários podem ser mais fáceis do que você imagina. Uma vez você sabendo qual seu conhecimento sobre a língua, você consegue mapear uma média de tempo e uma média de investimento para seu intercâmbio.

Avalie a economia do país escolhido (principalmente se você vai precisar trabalhar), a cultura do povo local e o clima, mas de forma geral, as pesquisas devem permear passagens (madrugadas e datas especiais são mais baratas) e custo de vida no país o qual você fará o intercâmbio. Faça cálculos levando em conta: hospedagem (hostels, casas de família ou aluguel de quarto) alimentação (de 3 a quatro refeições por dia), transporte (trem, tram, barca, metrô, ônibus…) e se for o caso, baladinhas esporádicas. Faça esses cálculos sempre por dia pra ajudar na organização financeira da viagem. Conte também com um contingente diário para imprevistos, algo em torno de 10% a mais do que calculou para aquele dia. Se você não gastar, esse contingente se acumula e é possível que sobre um dinheiro extra pra trazer de volta ao seu país de origem ou pra você comprar aquele suvenir bacana.

Seus objetivos podem ser relacionados a vida pessoal ou profissional, e além das citadas acima, destaco aqui alguns cuidados que podem poupar dinheiro e dores de cabeça:

  • Em viagens de turismo, reserve hotéis e passagens para chegada e para os principais pontos e países que você deseja visitar, entretanto, deixe a agenda maleável para o caso de você encontrar uma galera bacana indo para algum outro lugar que você não havia considerado enquanto no Brasil.
  • Para uma viagem com o objetivo de lapidar o inglês evite agências, pois, o que pagaria pra elas podem cobrir seus custos de passagem ou ajudar na compra de algum curso extra, por exemplo. Se você pretende passar mais que o seu tempo de férias no exterior em uma viagem intercalada com seu trabalho, converse com seu chefe sobre a possibilidade de umas férias estendidas ou trabalho remoto. Se não for possível tirar férias estendidas ou fazer homeoffice, tente um acordo com horas extras trabalhadas previamente.
  • Se você pretende passar um período de pelo menos 6 meses “fora”, ressalto que seu planejamento deve ser mais minucioso e você deverá se preocupar com o visto do país em questão e com as exigências para manter esse visto. Neste caso, é recomendável que você busque uma agência para lhe instruir sobre o melhor caminho a ser seguido. Jamais vá para algum país estrangeiro pensando em ficar ilegal, isso pode lhe trazer transtornos jurídicos internacionais e lhe custar muito caro.

Se você optar em fazer um intercâmbio, escolha o lugar que mais se identifica com você. Pense no que você vai aprender naquele país e na experiência como um todo. Se certifique que aquele lugar tem coisas que você gosta, se as pessoas falam coisas boas daquele povo e se o país escolhido tem pessoas que vão te acolher de forma hospitaleira.

O intercâmbio é divisor de águas na vida de qualquer pessoa e qualquer idade é idade. Além disso, fazer intercâmbio é SEMPRE válido, você só precisa tomar os devidos cuidados pra não desperdiçar nem dinheiro e nem tempo e saber que nem toda a experiência terá flores no caminho.

Acredite: quem você é hoje será bem diferente de quem você será depois do intercâmbio e qualquer lugar que você for te trará muito mais do que o aperfeiçoamento de um idioma.

E aí, pronto para fazer as malas?!

Texto publicado originalmente em www.saygo.com.br

ARIÇA VARGAS


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