Muitas pessoas que me procuram dizem que o sonho delas é falar inglês e o relato acima acontece com 9 de 10 alunos que já tive contato. Acontece que nem todas as pessoas estão dispostas a aceitar o que é necessário atravessar para aprender a língua de uma vez por todas.

Todos os alunos do meu curso sempre iniciam suas aulas pela estrutura básica da língua e o primeiro tema que abordamos é o famoso verbo TO BE. Isso não é negociável pelo simples fato de as pessoas não terem aprendido esse tema de forma consistente e existe muito mais a ser ensinado do que simplesmente saber aplicar esse auxiliar em uma sentença.

O verbo TO BE é, por exemplo, o responsável por introduzir as principais diferenças que existem entre português e inglês e sem esse conhecimento, o aluno DEFINITIVAMENTE NÃO APRENDE A FALAR A LÍNGUA.

Há muito preconceito em iniciar um curso por esse tema por pura falta de informação. Ainda há uma crença de que se você está estudando o verbo TO BE é porque você está em um nível básico e isso gera uma sensação de retrocesso. O que acontece de fato é que as pessoas não se dão conta de que o verbo TO BE sozinho não é o básico da língua. O básico é o reconhecimento das estruturas e que nós por aqui atribuímos ao estudo dos verbos auxiliares. Uma vez que você domine o uso dos 14 verbos auxiliares, você sai do básico.

Para falar inglês você deve ir muito além da leitura e da compreensão do inglês falado. As estruturas da língua devem ser totalmente dominadas, você deve saber aplicar o vocabulário de forma correta e pensar nas sentenças de forma natural e se você ainda não tem essas habilidades, sinto lhe dizer, mas seu problema não é falar, o problema é que você simplesmente não sabe inglês.

O processo doloroso de aceitar o que você não sabe. 

Admitir que seu conhecimento sobre o idioma é raso mesmo que você tenha estudado anos em uma escola tradicional é o principal agente que te levará a ter sucesso quando você estudar uma metodologia que foca em te tornar um falante da língua inglesa. Enquanto você fugir dos processos e acreditar que seu problema é só na fala, você permanecerá estagnado, portanto: aceita que dói menos.

Claro que tudo o que a pessoa não quer na vida é ouvir que o investimento feito até então para aprender a falar inglês foi em vão e que ela ainda tem um caminho longo para atravessar até que fale o idioma. Aliás, se você fizer uma autoanálise, perceberá que todos os anos de estudo que atravessou no máximo te tornaram um receptor de informação, e por vezes somente um leitor, pois até mesmo a compreensão do inglês falado parece Grego.

Dentro da minha experiência como professora de inglês, eu percebo que para aqueles que tem o conhecimento de escola do idioma se saem melhor e avançam de forma bastante consistente desde a primeira aula. Com relação aos que já tem uma história de estudo de alguns anos, aceitar que o caminho do aprendizado é um pouco diferente do que eles estavam acostumados a trilhar causa bastante desconforto. Já cansei de ter aluno que desistiu do curso porque não aguentou a pressão e decidiu ficar na ilha do inglês aprendido por mágica, sem estudo, sem esforço e que só serve pra massagear o ego inflado dos que adoram dizer que são fluentes, mas não sabem nem comprar pão na esquina sem ajuda do tradutor do Google.

Aqueles que abraçam o desafio geralmente passam pelas mesmas fases:

  • Empolgação – o início é sempre maravilhoso. O aluno chega cheio de gás e empolgado, buscando aquela sensação de satisfação ao voltar para as aulas de inglês e esperando que “tudo o que sabe” será o propulsor definitivo para leva-lo a passar pela “base” com a maior agilidade e rapidez possível. Claro que assim que se depara com a realidade ele percebe que o buraco é bem mais embaixo.
  • Negação – aqui é onde o aluno acredita que não é possível que tudo o que ele estudou tenha sido em vão e começa a questionar o método das aulas em questão, questionar o professor e, principalmente, a se questionar sobre sua escolha de aprender inglês, afinal, ele já havia sido dito previamente que ele era nível intermediário (mesmo sem saber o que isso significa realmente) e se deparar com várias informações novas onde ele considera o básico da língua, o fazem duvidar que algum dia ele será capaz de realmente aprender inglês.
  • Relutância – nessa fase o aluno inicia uma batalha interna onde ele, incrédulo ainda, tenta encaixar o conhecimento que tem no que está estudando e acaba metendo os pés pelas mãos, pois mesmo que o conhecimento do aluno seja usado ao decorrer do curso, ele terá o momento certo para ser aplicado. Aqui é onde a ficha começa a cair e o aluno finalmente entra na fase de aceitação.
  • Aceitação – aqui o aluno começa a perceber que todo o seu conhecimento adquirido nos anos de estudo está mais pra âncora do que qualquer outra coisa. Ele ainda sente uma certa relutância, mas percebe que o melhor a fazer é arrumar a bagunça e organizar cada coisa em seu lugar. Nessa fase o aluno passa a evoluir e perceber que o caminho do aprendizado pode ser prazeroso e que estava imaginando e desse ponto a evolução é certa. Claro que por mais que exista aceitação de que o conhecimento precisa de lapidação ainda há recaídas, mas nada que faça o aluno regredir a ponto de passar por todos esses sentimentos novamente.

O alívio ao voltar a acreditar que é possível falar inglês e de forma definitiva.

Uma vez o aluno se adequa e compreende suas falhas ele está pronto para seguir a diante sem muito ruído. Uma boa metodologia é aquela que é didática e objetiva e ter um bom guia/professor para apresenta-la a você fará toda a diferença nessa caminhada. De nada adianta ser dito que a pessoa precisa se dedicar se o processo não faz sentido ou o professor é mais perdido que bolacha maria em boca de banguela.

Passado o susto de ter acreditado que você era um zero a esquerda no idioma, a evolução chega batendo à porta a cada aula. Todo minuto dedicado ao estudo é recompensado com conhecimento e a cada novo tema estudado você percebe que consegue ler algo que jamais havia pensado que leria, consegue compreender aquela música do Back Street Boys, que você nem era fã, mas o crush gostava então você ouviu um milhão de vezes e do nada sente um alívio danado e um orgulho imenso de você mesmo por não ter desistido quando caminhou no vale das sombras.

É muito clichê dizer que não existe fórmula mágica e que você só aprende se houver dedicação, mas é o clichê mais certo sobre esse tema.

O que não é clichê e na verdade é pouco dito, é que para aprender haverá sangue, suor, lágrimas e muito autoconhecimento. Também não é dito que você sentirá raiva daquela escola de inglês a qual você dedicou anos de estudo e investimento e isso meu, amigo, só passa depois de anos, quando passa, pois sempre haverá uma pontinha de ressentimento.

O fato sobre a língua inglesa é que mudar a forma de enxergar os estudos e aceitar que para aprender você precisa seguir todos os processos da base é muito importante para que você pare de correr atrás do rabo. Aceite que seu conhecimento precisa ter começo, meio e fim, que processos devem ser seguidos e nada melhor do que passar por todos eles de forma objetiva e consistente para, finalmente, atingir o seu objetivo de ser um falante de inglês.

E aí, bora aprender inglês pra vida?!

Se você quiser se aprofundar sobre os termos que usei no artigo acima, já falei sobre os verbos auxiliares no artigo Verbos auxiliares: os principais pilares da língua inglesa e sobre os níveis de inglês no artigo O limbo do inglês intermediário – um guia para descobrir seu nível no inglês sem fazer exames. Esse segundo é causador de muita polêmica, mas poderá, certamente, te dar uma boa noção do que é ser básico, intermediário e avançado na língua. 

Texto publicado originalmente no site www.saygo.com.br

ARIÇA VARGAS

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