Quando eu tinha 12 anos, meus pais me matricularam no meu primeiro curso de inglês. Já naquela época eu tinha verdadeira paixão por essa língua. A professora era uma mulher alta com os cabelos volumosos, estilo Betânia, e apesar de não lembrar o nome dela, me recordo vividamente da risada dela: alta, engraçada e bastante peculiar! Ela seguia à risca os ensinamentos e os exercícios do livro de ensino da escola em questão e por muitas vezes, eu, como uma pessoa hiperativa, me pegava divagando sobre qualquer outro assunto em meio a aula, que era ministrada de uma sala do 8º andar de um edifício, com janelas grandes que mostrava uma vida agitada do lado de fora.

Daquela época eu já tinha dificuldades para manter o foco no que era ensinado. Tinha dificuldades em acompanhar assuntos que já haviam sido ministrados em algum momento anterior e ficava me perguntando qual a necessidade de “tanto retrabalho”. A metodologia da época focava em aproximar ao máximo a nossa gramática a gramática da língua inglesa, com muitos exercícios dos quais não aguçava o senso crítico e também não evoluía. Claro que pra uma criança isso tudo fazia parte dos estudos, mas depois de anos estudando através das mesmas técnicas (sem sucesso, diga-se de passagem), além de me dar conta e formar uma opinião clara sobre o tema, percebi que o problema não era eu e sim uma enorme parcela de escolas e cursos que nem sempre procuram se modernizar para melhor ensinar, mas, cobram um bom preço pelo que vendem.

Eu só aprendi inglês de verdade quando fui morar na Irlanda, crendo que saberia ao menos me virar com o básico. Ledo engano. Aliás, foi dolorido, sacrificoso, difícil e carrego traumas até hoje de situações extremamente embaraçosas que mesmo pra uma pessoa como eu, que ri de si mesma nas situações mais estapafúrdias, foram nada cômicas.

Foi triste perceber que o que eu havia dedicado aos estudos tinham sido em vão e que eu precisaria ser muito mais que persistente pra continuar naquele país e finalmente aprender a língua, afinal, eu havia investido tudo o que eu tinha para estar ali naquele momento e não poderia (e nem queria) desistir.

Há quem diga que fazer um intercâmbio é a melhor coisa pra aprender inglês e eu digo que é sim, desde que você já tenha uma bela bagagem sobre como a língua funciona e sobre suas peculiaridades divergentes ao nosso português, pois, se você não tem essa bagagem, meu amigo, recomendo que tome algumas doses extras de coragem, perseverança, teimosia e se joga na cova dos leões, pois as batalhas serão épicas.

A evolução que a gente espera e que nunca chega

De lá pra cá pouca coisa mudou. Os livros continuam com exercícios de lacunas, os professores continuam seguindo à risca metodologias antigas sem questionar se o conteúdo está sendo efetivo, todo mundo é colocado no mesmo balaio como se o que funciona pra um funciona pra todos da mesma forma, as aulas são baseadas na tradução e tudo isso pautado pelo “mas fazemos assim há anos e não precisamos mexer em time que está ganhando”.

Eis que te pergunto: está ganhando mesmo?

Já pensou que tudo o que estudamos e como estudamos pode não ser eficiente e talvez jamais tenha sido, pois em um país com uma média de falantes tão baixa de somente 5% da população, ou quem estuda realmente não se importa (o que eu acho difícil), ou há algo de muito errado que não está certo na forma de ensinar esse idioma.

Metodologias que foram desenvolvidas até mesmo no século passado continuam sendo inspiração para muitas metodologias “modernas”. Algumas incentivam que o aluno precisa estudar temas e etapas da língua inglesa tudo junto ao mesmo tempo agora e pra ontem pra poder se tornar um falante.

Dessas metodologias que já não deveriam mais ter espaço entre nós, surgem diversas maneiras de estudo e cronogramas que levam o aluno a um lugar onde nem sempre é o pertencente, ainda, a ele, o confundindo e servindo de combustível (altamente inflamável) para venda de cursos que falham em atingir o objetivo de ensinar o idioma, pois quase tudo o que se encontra no mercado é extremamente similar (e não eficiente), impedindo que o aluno tenha senso crítico o suficiente para saber qual linha de estudo deveria ser seguida para ter resultado real.

Escapar dessa ciranda, onde o aluno é vítima de falta de informação e visto como um porquinho cheio de dinheiro pelo mercado pode ser desafiador, mas não é impossível. Algo que não é segredo a ninguém é que o estudo e prática da gramática é fundamental para a evolução e aprendizado da língua inglesa, assim como o reconhecimento dessas estruturas, a iniciação da compreensão auditiva e por fim, o estudo da fala. Todos esses momentos devem e precisam ter uma linha de estudo simples, individual, gradual e que levem em consideração a cultura do estudante (como brasileiros falantes de português), cultura da língua estudada em questão, peculiaridades entre estruturas gramaticais, vocabulário, fonética, entre outros aspectos que em metodologias milagrosas não dão a devida atenção.

Dentro da ótica de quem ensina o idioma, os detalhes que diferenciam a língua materna da língua inglesa deveriam ser os principais pontos de estudo. O aluno, quando direcionado a aplicar o senso crítico de forma incisiva nas peculiaridades divergentes não só na construção dos dois idiomas, mas também, e principalmente, na cultura de cada uma das línguas, compreende melhor aspectos como essência de cada idioma e o que é necessário fazer para de fato, atingir a tão buscada fluência.

Heranças históricas e culturais sobre aprender inglês no Brasil

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagemExiste ainda um outro e fundamental ponto a ser discutido: o fato de o brasileiro não ser criado culturalmente para gostar de estudar e se instruir.

Desde que somos criança, não estudamos para aprender de fato, estudamos para decorar assuntos e sermos capazes de aplicar o conteúdo em lacunas pré-estabelecidas ou responder questões de múltipla escolha, tudo para passar de ano, ir bem no exame, ter uma boa nota e isso é bem diferente de aprender ou gostar de aprender, são raros os casos onde crianças, adolescente e adultos, demonstram prazer nos estudos. Não me espanta que há tantas metodologias de língua inglesa no mercado que prezem por esse tipo de técnica para ensinar o idioma no país. Vemos nessas metodologias as nossas vertentes educacionais primárias de estudo aplicadas, difundidas e aclamadas como funcionais, portando, esse é um aspecto cultural que precisa ser reconhecido e combatido no estudo da língua inglesa.

Mudar a mentalidade de que aprender algo de fato é bom, é fundamental para que possamos evoluir não somente no estudo de línguas, mas em termos gerais como nação.

Com os alunos que tenho a oportunidade de ser agente transformadora, incentivo que não há necessariamente a obrigação de amar o que se está estudando, mas que não deve existir aversão ou “dor” ao estudar um tema desafiador, por exemplo. Ao aplicar exercícios ativos, a princípio os alunos demonstram certa resistência e francamente nem todos levam os estudos adiante, pois ao aguçar o senso crítico, também levo o aluno a ser “senhor do seu conhecimento”, mostrando que a prática leva sim a perfeição e que o conhecimento é atingido quando saímos da nossa zona de conforto, onde tudo é nos dado “pronto para ser decorado”.

Por fim, segundo Émile Durkheim o homem é produto do meio e fica aqui a reflexão de que meio nós gostaríamos de fazer parte. Está claro que o meio em que estamos vivendo hoje no ensino da língua inglesa está longe de ser ideal e que há um caminho tão longo a ser percorrido quanto ao que já foi. Mudar aspectos não somente do mercado, mas individuais exige tempo, acesso a informação segura e muita força de vontade e só será possível quando o senso crítico de quem busca aprender esse idioma for aguçado. Que tal começar por você mesmo?

E aí, bora aprender inglês pra vida de uma vez por todas?! 😀

Este texto foi originalmente publicado no site www.saygo.com.br

ARIÇA VARGAS

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