Esse texto é um recorte do artigo Se Deus é brasileiro, porque falar inglês não seria pra gente?! que escrevi há um ano contando um pouco mais sobre a minha jornada com a língua inglesa enquanto morava na Irlanda. Falar sobre a língua, que hoje é minha profissão, me ajuda a transmitir não só minha paixão pelo assunto, mas também, a divulgar tudo o que acredito que precisamos levar em conta para nos tornarmos falantes desse idioma que é o mais falado no mundo.

Tive a imensa oportunidade (galgada por mim e não por papai) de morar por três anos e meio na Irlanda, período onde além de muitas realizações pessoais, coisas boas, pessoas incríveis, também foram anos de muito aprendizado, crescimento pessoal e choro. Se engana a pessoa que pensa que fazer um intercâmbio é a salvação da lavoura para aprender inglês.

Na minha humilde opinião, aprender assim, no seco, sem muita noção sobre nada da língua é infinitamente mais desafiador e dolorido do que aprender no seu tempo e sem tantos traumas associados.

Quando em 2016 já morando no Brasil decidi dar aulas de inglês, fui me especializar e aprender sobre didática de aulas. Um dos desafios de quem ensina é ter uma metodologia atraente, eficiente e que faça sentido na vida das pessoas. Logo eu descobri que as metodologias aplicadas no nosso país seguem a mesma linha a mais de 30 anos e são fundamentadas em metodologias criadas nos séculos passados, pautadas, geralmente, em ensinar a língua inglesa exatamente como aprendemos o português. Percebi em meus estudos e pesquisas o quão enganados somos por todos esses profissionais e escolas que ainda aplicam essas metodologias atualmente. Decidi me comprometer a criar algo que fosse totalmente adaptado a nós brasileiros e a nossa cultura.

Sobre descontruir para construir.

No início as coisas não faziam muito sentido, mas eu estava determinada a mudar o modelo de aulas com uma nova metodologia de ensino a todo custo. O melhor a fazer era enfiar a cara nos livros que ensinam gramática da língua inglesa e separar o joio do trigo, ou seja, garimpar ali o que realmente seria necessário estudar em uma metodologia que focasse em todas as etapas do aprendizado da língua: estrutura gramatical, escrita, habilidade de escuta e finalmente fala. Mais importante que isso, eu precisava entender quais eram “As importantes diferenças entre o português e o inglês e como usá-las a seu favor”.

 

Das principais diferenças que eu pude perceber, uma me chamou a atenção como nenhuma outra: A ESSÊNCIA DE CADA LÍNGUA É DIFERENTE. A forma de comunicação da língua inglesa transmite informações de forma mais contínua que no português, ou seja, se enquanto no português pautamos nossa comunicação em tempos verbais simples, e aceitamos que mesmo que seja uma ação com movimento continuo em um determinado momento na linha do tempo, no inglês as informações com o mesmo movimento são essencialmente transmitidas com tempos verbais contínuos. Outra diferença básica é a forma como as sentenças são construídas: a língua inglesa exige o uso de um verbo auxiliar para determinar o tempo verbal e conjugar verbos principais de sentença para transmitir a informação correta ao interlocutor.

Alguns livros, como os de título Grammar in use de Raymond Murphy e How to speak and write correctly de Joseph Devlin, foram algumas das bibliografias que usei para desenvolver a metodologia que uso hoje para ensinar inglês aos brasileiros e claro que nossa língua portuguesa e principalmente nossa cultura foram base para o desenvolvimento desse novo método e forma de ensinar.

Sobre os livros citados, estes não trazem explicações aprofundadas em suas lições, somente exemplos aplicados sobre gramática e escrita. Se você não fala o idioma fica mais perdido que chinelo em cancha de bocha e o máximo que esses livros farão por você é lhe tornar um receptor de informação e não um falante da língua. Contornar essa falta de explicação foi o que consegui com o auxílio desses livros e pude filtrar os conceitos necessários para desenvolver uma linha de raciocínio clara, prática e objetiva considerando o que faz sentido pra os brasileiros.

Vale ressaltar que nenhuma bibliografia fala sobre a questão da essência das línguas serem diferentes e, apesar disso, eu considero esse um fator crucial para o ensino do idioma e que associado a construção da língua inglesa, leva o aluno a definitivamente falar o idioma.

O caminho é longo e árduo, mas nem tanto se sairmos da bolha.

Usar a língua portuguesa e a nossa cultura como base foi fundamental pra entender onde nosso calo aperta e compreender que ou a gente estuda as diferenças entre as línguas e culturas ou estamos fadados a jamais sermos falantes de inglês. Aprendi que não adianta querer “colar” as gramáticas desses dois idiomas e ensinar inglês através de tempos verbais, muito menos aplicar tradução ou focar em vocabulário, pois, os dois idiomas são diferentes e essas diferenças precisam ser aprendidas e praticadas desde a primeira aula.

Como você pode perceber, aprender inglês deve levar em conta quem somos como estudantes e como uma nação cheia de cultura ímpar. Há anos ainda estudamos inglês de forma equivocada, aplicando conceitos que não fazem parte desse idioma e tentando encontrar sentido em situações que são parte somente do nosso português. Isso não só nos atrasa, pois, o mundo é global e por não sermos falantes da principal língua falada mundialmente, perdemos negócios, interações pessoais, conhecimento e muito mais.

Costumo dizer que se eu precisasse ensinar inglês para qualquer outra pessoa que não fosse brasileira eu teria problemas justamente porque eu me especializei nesse público: o brasileiro. Há de se compreender como melhor atendê-los, quais são os processos que cada um de nós já atravessamos durante tantos anos de ensino equivocado e o porquê decidimos seguir ou não aprendendo. Somos um povo caloroso, que adora interagir e estar em todo lugar, só nos faltava uma oportunidade melhor de estudo para poder fazer isso sem restrições com a língua inglesa.

E aí, bora aprender inglês pra vida de uma vez por todas?! 😀

Este artigo foi originalmente publicado no site www.saygo.com.br

ARIÇA VARGAS

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